10 jun, 2024

Empatia

“Empatia é a habilidade de perceber os sentimentos de outras pessoas, como elas veem o mundo e ter uma preocupação genuína com seu bem estar.” – Daniel Goleman e Cary Cherniss em “Optimal” (2024)

Normalmente empatia é descrita como “a capacidade de calçar os sapatos do outro”. Entretanto, é bem mais complexo do que isso. Neste post vou abordar o que é empatia segundo as pesquisas mais recentes no tema, suas origens e dicas práticas de como desenvolvê-la.

Origem dos estudos recentes de empatia

A capacidade de seres humanos se conectarem em um nível emocional é estudada há séculos. Entretanto, dentro do contexto da evolução das pesquisas em Inteligência Emocional, empatia começou a ser melhor entendida a partir das pesquisas do psicólogo britânico Simon Baron-Cohen. (Curiosidade: ele é primo do comediante Borat)

Cohen é conhecido por seus estudos do Transtorno do Espectro Autista, e em 1995 desenvolveu a Teoria da Mente, que é a capacidade humana de fazer inferências acerca do que está na mente de outra pessoa, incluindo suas emoções. A Teoria da Mente é uma característica humana que se desenvolve até os cinco anos de idade, e distúrbios nesta formação estão associados ao autismo, Síndrome de Asperger, bem como outras condições e desordens. Dessa forma, deficiências ou atrasos na formação da Teoria da Mente em uma criança prejudicam sua capacidade de se colocarem no lugar das outras pessoas, de imaginar seus pensamentos, sentimentos e estados emocionais.

Leitura de expressões faciais

O entendimento do estado emocional de uma outra pessoa passa pela capacidade de perceber mudanças em suas expressões faciais. O psicólogo americano Paul Ekman dedicou sua carreira ao estudo das expressões faciais e microexpressões. Estudou as expressões faciais em países desenvolvidos e tribos nativas em regiões remotas, chegando à conclusão de que a demonstração das emoções é uma característica humana universal, não estando ligada a desenvolvimento econômico ou diferenças culturais por mais profundas que sejam. Ekman foi o consultor técnico da série “Lie to me”, onde o protagonista é capaz de detectar mentiras das pessoas percebendo suas microexpressões faciais. Em seu site, Ekman faz a distinção entre as pesquisas que conduziu e o conteúdo apresentado na série, reconhecendo que o que aparece na tela tem o objetivo de entreter o público mas muitas vezes não tem embasamento científico.

Para o que nos interessa aqui, é importante sabermos que é possível aprimorarmos nossa empatia através da leitura das expressões faciais de outras pessoas.

Inteligência Emocional, Foco e Empatia

Daniel Goleman foi o precursor da Inteligência Emocional (IE) com seu livro homônimo publicado em 1995. Fundou o Consortium for Emotional Intelligence, um grupo de pesquisa no campo da IE que conta hoje com mais de 100 pesquisadores no tema. Goleman também se especializou no campo da atenção, foco e concentração. Isto porque manter a atenção em si e no outro durante nossas interações é vital para a empatia e inteligência emocional. Em seu livro “Foco“, Goleman detalha esta conexão entre atenção e a IE.

Já em seu mais recente livro, “Optimal“, Goleman e Cary Cherniss abordam como a inteligência emocional é crucial para um desempenho ótimo no trabalho. Também fazem uma releitura de toda inteligência emocional, e claro, da empatia.

Empatia é uma das 12 competências emocionais, e falei sobre elas nesta edição do Morninsight:

Os três níveis da empatia

Em primeiro lugar, empatia não é uma habilidade singular. Ela conta com três níveis ou tipos de empatia. Embora sejam complementares, é possível ter um bom domínio de um tipo mas não do outro. Cada um destes tipos de empatia opera a partir de circuitos neurais diferentes. Segundo, empatia pode ser desenvolvida, e a seguir falarei sobre cada tipo de empatia e como desenvolvê-la.

Empatia cognitiva

A empatia cognitiva é a capacidade de entender o ponto de vista de outra pessoa. Ela funciona em um nível cognitivo a partir da capacidade de, mesmo não concordando com o outro, ser capaz de entender a lógica e motivação do outro que o levam a ter este ponto de vista. A empatia cognitiva funciona em grande parte na camada do cérebro responsável pelo pensamento lógico, o neocortex.

Pessoas que apresentam este tipo de empatia podem ser tornar boas comunicadoras e negociadoras, uma vez que conseguem entender a lógica de ideias e opiniões diferentes das suas e melhor se conectar com os outros em um nível cognitivo.

Dicas para desenvolver:

  • Faça perguntas abertas: perguntas que começam com “o que”, “quanto”, “como”, “quais”. Elas ajudam a fazer com que a outra pessoa precise explicar melhor sua ideia e dessa forma você consegue obter mais detalhes.
  • Preste atenção no outro: um dos problemas da comunicação é a falta de atenção ao que o outro fala. Evite ficar maquinando uma resposta na sua cabeça enquanto o outro fala, e dessa forma você não perderá informações importantes por estar desconcentrado.
Empatia emocional

Este tipo de empatia é executado em nossos circuitos neurais responsáveis pelas emoções. Com ela nos conectamos às outras pessoas no nível emocional e somos capazes de sentir o que a outra pessoa está sentindo. Dessa forma, esta poderosa conexão cerebral entre as duas pessoas onde os mesmos circuitos neurais estão ativos simultaneamente fazem com que a empatia emocional permita uma conexão muito rápida e poderosa. Nós percebemos as emoções do outro através das deixas não verbais como expressões faciais, tom de voz e gestos.

Entretanto existe um problema potencial. Quando não percebemos que estamos sendo “contaminados” pelas emoções do outro podemos absorver estados emocionais negativos. Por isso a primeira competência emocional é a Autoconsciência Emocional, que nos permite perceber mais rapidamente uma alteração em nosso estado emocional.

Dicas para desenvolver:

  • Passe a prestar mais atenção às expressões faciais: aproveite as situações onde você não está diretamente envolvido em uma conversa, como em uma reunião onde outras duas pessoas estão interagindo, para prestar ainda mais atenção às expressões dos outros. Perceba com suas expressões faciais e corporais se alteram ao longo da conversa. Tente sentir o que estão parecendo sentir.
  • Calibre suas expressões faciais para o que quer transmitir: por exemplo, quando tiver de discordar de alguém, evite franzir a sobrancelha ou levantar o nariz em sinal de desgosto. Quando você se perceber mais preocupado, busque sorrir mais para que sua preocupação não contamine as pessoas ao redor. Se tornar consciente das suas expressões ajuda a melhor perceber a dos outros.
Consideração empática

A consideração empática significa se preocupar com os interesses e emoções do outro, não somente com os seus. Este tipo de empatia se caracteriza pela preocupação em cuidar da outra pessoa bem como ser gentil em nossas interações demonstrando zelo e afeto. Ou seja, além de ser capaz de perceber as emoções significa ter real preocupação com o outro, seja com seus objetivos ou com suas emoções. A consideração empática se utiliza dos mesmos circuitos neurais do amor paterno/materno.

Dessa forma, pessoas com consideração empática também se preocupam com a reação emocional dos outros ao tomarem decisões. Este tipo de empatia é muito correlata ao “Pense ganha-ganha”, quarto hábito dos “7 hábitos das pessoas altamente eficazes“, de Stephen Covey.

Dicas para desenvolver:

  • Considere as emoções do outro em suas decisões: quando tiver de tomar uma decisão que afete mais pessoas, pondere como elas se sentirão. Mesmo quando for uma decisão não favorável ao outro, busque minimizar o impacto emocional da decisão e também na forma de comunicar.
  • Lembre-se de pessoas a quem você é grato: é fácil termos afeto e consideração por pessoas que lhe ajudaram e de quem você gosta. Reaviva este sentimento. Agora, busque projetar este sentimento em pessoas do seu convívio diário, como trabalho, escola ou comunidade. Por fim, você pode buscar ter este sentimento de desejar o bem a qualquer pessoa que encontre em seu caminho.
Conclusão

Embora empatia seja uma competência complexa, ela pode ser desenvolvida. Da mesma forma que acontece com outras habilidades, a prática leva ao aprimoramento, e todos temos a possibilidade de evoluir em nossa empatia. Apesar de estarmos vivendo em um mundo cada vez mais tecnológico, a capacidade de nos conectarmos emocionalmente a outras pessoas continuará sendo importantíssima.

Por fim, deixo o convite para você continuar buscando sua evolução pessoal e emocional, deixando seu legado de boas ações e bons relacionamentos por onde passa.


Eu trabalho desenvolvendo pessoas há mais de vinte anos, e desde 2013 atuo como palestrante, trainer, mentor e coach profissional. Minha abordagem é pragmática e focada nos resultados do cliente, sem misticismos ou promessas milagrosas. Entre em contato para conversarmos sobre seus desafios e como eu poderei ajudar!

Luiz Azeredo Costa